segunda-feira, 18 de dezembro de 2023

Desesperado

Estava perdido, andando só e quase desnudo. Não sentia frio, calor ou as picadas dos mosquitos. Alí simplesmente caminhava e caminhava, passo após passo, sem destino, sem descanso, sem luz, sem horizonte, sem sequer claridade ao fim do túnel.
A verdade é que ainda estou perdido. Já não caminho só, mas as companhias não fazem frente às que coexistem em minha mente; que a cada dia tornam-se mais coerentes e tangíveis. Dessas eu desconfio e temo pois parte eu sei o que querem, o que pretendem e onde pretendem chegar. Dessas eu realmente não consigo me desvencilhar. 
Porém algo é fato: nunca executei um plano nefasto. Nunca. Não tive culhões. Planejei, se planejei. O vi bem vestido, de cabelo penteado, roupa impecável e sorriso bonito. Seu olhar era vazio, de desespero. Poderia jurar que em um cruzar de olhos o som seria audível em outro planeta; certamente em outro sistema solar; quiça na galáxia mais próxima.
Ao contemplar o sorriso do feito, descobri que o tempo já não mais existia. O nascer havia padecido. Ser e estar não cabiam em seus espaços, e por maior que fosse a procura todos evitavam ser encontrados.
E alí, de repente, me encontrei. Foi desagradável. Inoportuno. Agarrei-me pela mão e como uma mãe desesperada gritei "Por onde andei? Por onde estive? Já não me amo?" e, para meu infortúnio, não ouvi resposta.

Um comentário:

  1. E aí man, thousands of years have gone by... Como vão as coisas? Saudades, abraço

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