segunda-feira, 18 de dezembro de 2023

Desesperado

Estava perdido, andando só e quase desnudo. Não sentia frio, calor ou as picadas dos mosquitos. Alí simplesmente caminhava e caminhava, passo após passo, sem destino, sem descanso, sem luz, sem horizonte, sem sequer claridade ao fim do túnel.
A verdade é que ainda estou perdido. Já não caminho só, mas as companhias não fazem frente às que coexistem em minha mente; que a cada dia tornam-se mais coerentes e tangíveis. Dessas eu desconfio e temo pois parte eu sei o que querem, o que pretendem e onde pretendem chegar. Dessas eu realmente não consigo me desvencilhar. 
Porém algo é fato: nunca executei um plano nefasto. Nunca. Não tive culhões. Planejei, se planejei. O vi bem vestido, de cabelo penteado, roupa impecável e sorriso bonito. Seu olhar era vazio, de desespero. Poderia jurar que em um cruzar de olhos o som seria audível em outro planeta; certamente em outro sistema solar; quiça na galáxia mais próxima.
Ao contemplar o sorriso do feito, descobri que o tempo já não mais existia. O nascer havia padecido. Ser e estar não cabiam em seus espaços, e por maior que fosse a procura todos evitavam ser encontrados.
E alí, de repente, me encontrei. Foi desagradável. Inoportuno. Agarrei-me pela mão e como uma mãe desesperada gritei "Por onde andei? Por onde estive? Já não me amo?" e, para meu infortúnio, não ouvi resposta.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2022

À Sorte

 Eu? 


Eu gosto de observar o céu...


As ondas. 


O andar da sombra na janela. 


Eu?


Seduzo-me pelo movimento...


Inquietante. 


Fonte de saborosa curiosidade. 


Eu?


Hahahahahahahahaha


Não queira saber. 


Desvende-se e então encontre-me. 

Mais de mim falando além dos meus

 Não é como se o conforto estivesse no isolamento, tampouco ausência ou silêncio. O conforto, neste âmbito, é inexistente. Não há sequer um lampejo de possibilidade, na qual, haja exclusão de seres em ambiente privado e singular. 

Se, por si houvesse, tal demente desejo a possibilidade em realidade, qualquer afortunada conclusão daria-se por simples cessar de existência, frequentemente mal interpretado por sociedades, religiões e eruditos dos assuntos da psique. 

Há, como se nunca houvesse antes, a necessidade pela manutenção e mantenimento dos bons, claros e aceitos preceitos morais e sociais aos quais qualquer ser humano deva-se engajar, afiliar, militar e guerrear. 

Entretanto, não encara-se a misantropia como saudável, plausível e compreensível de habilidade sociopolítica. Credito ao pensamento o vislumbre singular do indivíduo, quando, na verdade, persiste a povoada mente humana.

Ode às Vênus

 Pergunto-me:


- O que pensou Da Vinci?


- Michelângelo?


- Jesus?


O que pensaram tantos outros quando atribuíram vida ao inanimado? Como puderam? Como perseguiram? Como enlouqueceram? Recobrarem-se e novamente se perderam?


Se Vênus, como viva?


Se morta, como Vênus?


Se em tempo, como atemporal...


(Sinapses Desvairadas)

Repetições

 Merda. "And here I go again". 

Não havia notado, em meio a embriaguês, o quão dramático és meu eu ébrio. Gosta de manifestar suas inquietudes, estabelecer seus devaneios às coisas triviais e mundanas. 

É existencialista às avessas, afogando-se na piscina para crianças e trepidando aos limites do meio-fio. Põe-se imaginar cenários obtusos de circunstâncias agudas e totalmente hipotenusas, sem qualquer ideia das possíveis incógnitas. 

Seguramente poderia-se perguntar "¿Qué paso?" e tranquilament respondería "Nada." Ou "Nothing."  Ou nada...


Senão o desejo de quietude, nada aconteceu neste inquieto universo que, volta e meia volver, clama por silêncio em meio o ensurdecedor. 


(Sinapses Desvairadas)

segunda-feira, 20 de dezembro de 2021

2021, O Ano Morto

 O ano em que não houve sentimentos, somente uma significante irreconhecível palidez no reflexo; ausência de cores durante o dia e completa morosidade nos oceanos criativos. 


O vento não soprou

O Sol não acalentou

O frio não arrepiou

A noite não inquietou


O fogo não iluminou

A mente não criou

O músculo não contraiu

O sangue não fluiu


2021 foi um ano morto, mas somente porque não o vivi. Sei que alí estava e existia, que escrevia sua história, cantarolava seus cânticos e narrava seus causos. Mas eu só consegui ser espectador. 


E antes que este ano se acabe, finalmente venho limpar este mausoléu que com pó, ervas daninhas e teias de aranha, guarda os restos mortais de tudo o que um dia fez parte de mim. 

domingo, 8 de novembro de 2020

Contínuo_doxo

Mortos

Mortos não amam
Mortos não dançam
Mortos não sorriem
Mortos não querem

Vivos não amam
Vivos não dançam
Vivos não sorriem
Vivos não querem

Vivos